LAMENTO DAS ÁGUAS
OS TINCOÃS
COMPOSITORES: MATEUS ALELUIA & DADINHO
PAÍS: BRASIL
ÁLBUM: OS TINCOÃS
GRAVADORA: EMI ODEON
GÊNERO: M P B
ANO: 1973
Os Tincoãs foi uma banda brasileira de música popular
brasileira formada na Bahia, ativa principalmente nos anos 1960 e 1970. Seu
nome deriva da ave tincoã.
“É muito comum ler em críticas sobre astros do rock ou do
pop a valorização de músicos e grupos que estiveram “à frente do seu tempo”.
Ainda que a música brasileira apresente alguns destes exemplos, acredito que são
mais relevantes por aqui grupos e músicos que têm a capacidade de sintetizar em
suas trajetórias gêneros e gerações musicais inteiras. Este é o caso d’Os
Tincoãs: formado nos anos 1960 em Cachoeira – cidade do Recôncavo Baiano de
forte presença negra e reconhecida por seu patrimônio cultural material colonial
e imaterial afro-brasileiro-, o grupo começou a carreira como um trio vocal de
bolero, em um estilo próximo ao do Trio Irakitan. Aí está uma ironia, pois se o
bolero é um gênero caribenho que mescla elementos africanos e espanhóis, seu
consumo no Brasil se deu especialmente entre classes médias e altas brancas,
sendo por décadas um dos principais gêneros dos bailes dos principais clubes
sociais. Tal como o jazz, tenho a impressão de que gêneros musicais de raiz
africana produzidos alhures são mais palatáveis para o consumo de elites
brancas, tendo recebido maior atenção das gravadoras ao longo do século XX do
que os gêneros afro-brasileiros – com exceção do samba, claro. De modo que o
primeiro disco d’Os Tincoãs, “Meu Último Bolero”, de 1961, foi um álbum de
boleros que não obteve sucesso e que especialmente não conseguiu emplacar o
trio no circuito do bolero no Sudeste.
Após este primeiro fracasso, o integrante Erivaldo se
desligou do grupo, cedendo lugar a Mateus Aleluia, nome a que voltarei mais
tarde. Assim, além de Mateus, o grupo contava ainda com Heraldo e Dadinho,
ambos já falecidos. Os Tincoãs demoraram mais de uma década para lançar seu
próximo disco, “Os Tincoãs”, de 1973. Os anos 1960 assistiram a uma galopada do
processo de apropriação do samba pelas elites culturais brasileiras: se já nos
anos 1930 Francisco Alves se apropriava/gravava canções de Ismael Silva, foi no
fim da década de 1960 e nos anos 1970 que o samba caminhava a passos largos
para uma elitização e espetacularização que culminaria simbolicamente na
construção do sambódromo da Marquês de Sapucaí nos anos 1980. Foi também no fim
dos anos 1960 que a bossa nova se estabeleceu internacionalmente como a
consolidação de uma música brasileira sofisticada e os músicos próximos à
Tropicália reinventaram as fronteiras do samba enquanto canção popular.
Curiosamente, foi também na década de 1970 que grandes nomes do samba tido por
não-sambistas como “samba de raiz”, já em idade avançada, gravaram seus
primeiros álbuns: Nelson Cavaquinho o fez em ’70 e Cartola em ’74, por exemplo.
Mas meu objetivo não é falar de samba e, sim, tentar
entender em que contexto se insere o disco homônimo do grupo, “Os Tincoãs”, de
1973: entre os muitos gêneros e movimentos culturais que compunham uma complexa
disputa narrativa pela identidade nacional brasileira e pela inserção no
mercado fonográfico em tempos de endurecimento da Ditadura Militar, o samba era
aquele que costurava de fora a fora a produção musical brasileira e o que se
falava sobre ela – da crítica musical a discursos políticos. Por isso, na
contramão de baianos como Caetano Veloso e João Gilberto, não é de se estranhar
que um grupo de negros do Recôncavo Baiano que misturava vocais de bolero com
samba de roda e música afro-religiosa tenha passado despercebido aos bem
educados e engajados ouvidos sudestinos de então: as pontes entre canção
popular brasileira e música negra eram completamente dependentes da linguagem
do samba urbano carioca para serem operantes. Creio ser este um dos principais
motivos pelos quais Os Tincoãs continuaram ilustres desconhecidos na música
brasileira até os anos 2000. Apesar deste silêncio de mais de 40 anos,
recentemente Os Tincoãs têm reaparecido na cena musical brasileira. Entretanto,
as referências são limitadas, orbitam em torno de algumas regravações e estas
se limitam especialmente a uma música, que é “Deixa a Gira Girar” – regravada
por Márcia Castro e Bixiga 70, por exemplo -, canção que abre o álbum em questão
e que é uma adaptação de Dadinho e Mateus Aleluia para uma canção de domínio
público.” Por CAIO CSERMAK
Na
beira do mar
Chamarei
yemanjá
Zumbi,
ogum, vodum, erum, ilê oro
No
azul do mar
Clamarei,
ó yemanjá!
Olhai,
mãe santa,
Meu
canto de dor
Feito
em seu louvor
Yemanjá,
yemanjá iê
Yemanjá
iê, yemanjá
Escutai
meu clamor
Yemanjá,
aliviai minha dor
Uô,
uô, uô ai meu pai xangô!
Uô,
uô, uô minha mãe yemanjá!
Valha-me!
uô, uô, uô
Ó,
ilê, ilê, ilê...
Uô,
uô, uô...
Tom: A
Intro: A C#7 F#m E
A C#7 F#m E D E F#m
É niboboiá cabirê ô yabá
A C#7 F#m E D E F#m
Na beira do mar chama ê ô Iemanjá
A F#m A B
Olhai mãe Santa, meu pranto de dor
A B F#m
Feito em seu louvor, Iemanjá
F#m A E F#m
Iemanjá leru... boaô
F#m A B F#m E
Iemanjá leru... minha dor
A C#7 F#m E D E F#m
Na beira do mar chama ê ô Iemanjá
A C#7 F#m E D E F#m
É niboboiá cabirê Iemanjá
A F#m A B
Odé, Oxossi, Ogun, Ajunssun
A B F#m
Iemanjá leru... boaô
F#m A E F#m
Iemanjá leru... boaô
F#m A B F#m E
Iemanjá leru... boaô
A C#7 F#m E D E F#m
É niboboiá chama ê ô Iemanjá
A C#7 F#m E D E F#m
Na beira do mar clama ê ô Iemanjá
Acordes para:
- A123
- B234
- C#71234
- D123
- E123
- F#m34
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