CONSTRUÇÃO
CHICO BUARQUE DE HOLANDA
COMPOSITOR: CHICO BUARQUE DE HOLANDA
PAÍS: BRASIL
ÁLBUM: CONSTRUÇÃO
GRAVADORA: UNIVERSAL MUSIC
GÊNERO: MPB
ANO: 1971
Construção é um disco do cantor
e compositor brasileiro Chico
Buarque, lançado em 1971
e composto em períodos entre o exílio de Chico na Itália e sua
volta ao Brasil. Liricamente, o álbum é carregado de críticas ao regime militar vigente, principalmente no
que concerne à censura imposta pelo governo ("Cordão") e pelo estado
indigno no qual as condições individuais se encontravam no país
("Construção"), além de algumas canções mais clássicas e pessoais
("Valsinha" e "Minha História (Gesú Bambino)").
O disco marca o aguçamento da
vertente crítica da poética do autor. Se antes ele harmonizava Bossa Nova
com composições veladamente críticas à ditadura brasileira, em
"Construção" o cantor mostrou-se mais ousado - como indica os versos
iniciais de "Deus lhe Pague", faixa que abre o LP ("Por esse pão
pra comer, por esse chão pra dormir"). Em "Samba de Orly",
parceria com Toquinho
e Vinicius de Moraes, Chico canta abertamente
sobre o exílio - o que fez com que a canção fosse parcialmente censurada. A faixa-título é uma crítica
sobre um homem que trabalhou arduamente até sua morte. Não faltaram também o
lirismo característico do artista, como demostrado em "Olha Maria" e "Valsinha".
O álbum conta com arranjos de Magro, então integrante do grupo MPB-4, e do maestro Rogério
Duprat.
Amou
daquela vez como se fosse a última
Beijou
sua mulher como se fosse a última
E
cada filho seu como se fosse o único
E
atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu
a construção como se fosse máquina
Ergueu
no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo
com tijolo num desenho mágico
Seus
olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou
pra descansar como se fosse sábado
Comeu
feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu
e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou
e gargalhou como se ouvisse música
E
tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E
flutuou no ar como se fosse um pássaro
E
se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou
no meio do passeio público
Morreu
na contramão atrapalhando o tráfego
Amou
daquela vez como se fosse o último
Beijou
sua mulher como se fosse a única
E
cada filho como se fosse o pródigo
E
atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu
a construção como se fosse sólido
Ergueu
no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo
com tijolo num desenho lógico
Seus
olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou
pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu
feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu
e soluçou como se fosse máquina
Dançou
e gargalhou como se fosse o próximo
E
tropeçou no céu como se ouvisse música
E
flutuou no ar como se fosse sábado
E
se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou
no meio do passeio náufrago
Morreu
na contramão atrapalhando o público
Amou
daquela vez como se fosse máquina
Beijou
sua mulher como se fosse lógico
Ergueu
no patamar quatro paredes flácidas
Sentou
pra descansar como se fosse um pássaro
E
flutuou no ar como se fosse um príncipe
E
se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu
na contra-mão atrapalhando o sábado
Por
esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A
certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por
me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus
lhe pague
Pela
cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela
fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos
andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus
lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E
pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E
pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus
lhe pague
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